domingo, 21 de dezembro de 2008




“O opus alquímico não concerne em geral unicamente aos experimentos químicos, mas a algo semelhante aos processos psíquicos, expresso na linguagem pseudoquímica.” (vol. XII parag.342)


Como sabemos a alquimia pertence à pré-história da química, no entanto existem um grande número de tratados onde nada ou quase nada se encontra da química conhecida, como se houvesse um outro processo químico, secreto, obscuro, expresso em suas imagens. Para Jung, tais imagens alquímicas são expressões simbólicas onde se encontram projetados conteúdos psíquicos inconscientes. Por essa perspectiva, o simbolismo alquímico configura-se em grande parte como um produto da psique objetiva, como se o alquimista ao tentar explorar a real natureza da matéria que lhe era desconhecida, tivesse projetado o inconsciente sobre essa obscuridade a fim de clareá-la. Enquanto projeção de conteúdos arquetípicos, as imagens alquímicas, por um lado, entram na categoria da mitologia e do folclore, guardando intima relação com o material onírico: “Estudos comparativos mostraram que os símbolos alquimistas são, por um lado, variantes mitológicos que fazem parte do mundo da consciência do alquimista e por outro, são produtos espontâneos do inconsciente.” (Jung, 1951).
Jung descobriu a alquimia de forma absolutamente empírica percebendo que nos sonhos de seus pacientes apareciam motivos que de inicio não conseguia compreender e só mais tarde, observando velhos textos alquímicos encontrou uma resposta. Encontrou uma relação entre os motivos dos sonhos e imagens alquímicas e conseqüentemente entre a situação psíquica de seus pacientes com as fases alquímicas e suas operações. Por exemplo, nos relata Marie Louise Von-Franz em seu livro Alquimia:

“um paciente sonhou que uma águia começava a voar para o céu e depois, subitamente, girava para trás a cabeça inferior grossa, começava a devorar as asas e voltava a cair na terra. O doutor Jung captou o simbolismo sem necessidade de comparações históricas, como por exemplo: o espírito ascendente ou a ave pensante. O sonho mostra uma enantiodromia, o oposto à situação psíquica. Ao mesmo tempo estava impressionado pelo motivo que cada vez mais era reconhecido como arquetípico e que devia, quase obrigatoriamente, ter um paralelo, até que não podia encontrar-se em nenhum lugar, aparecia como tema geral. Então, um dia descobriu o Ripley Scroll, que dá uma série de imagens do processo alquímico-publicadas em parte em Psicologia e Alquimia—, onde uma águia com cabeça de rei se volta para trás para comer suas próprias asas.”(Von Franz, M. L)
A originalidade de Jung foi ver a Alquimia como expressão de dinamismos mentais inconscientes, trazendo um terceiro enfoque para a compreensão da alquimia que vai além do material e filosófico. Tal enfoque está fundamentado na percepção da Alquimia como um processo arquetípico de transformação do ser que visa à realização das potencialidades inatas do indivíduo, um processo de revelação análogo ao que Jung denominou Processo de Individuação.
Ana Curi (anac333@gmail.com)